Sobre a manutenção do poder branco no evento do IML
Nesse imbróglio de manutenção do poder branco, protagonizado pela curadoria da oficina dos 18 poetas brancos do Instituto Moreira Salles, tenho lido e prestado atenção em coisas que me façam pensar e apontem caminhos ou pelo menos pistas de mudança. Me recuso a comentar e reproduzir, sequer leio até o final, coisas-clichê que repetem palavrinhas manjadas da gramática da resistência e não constroem um argumento (os argumentos ajudam no fortalecimento de quem precisa ser fortalecido). Por outro lado, mesmo cansada, leio as justificativas dos mantenedores do poder branco e reproduzo os argumentos das pessoas que têm paciência determinação para desconstruí-las.
Há dois pontos que gostaria de destacar: o Brasil tem cinco regiões e a gente precisa parar de citar apenas o Nordeste e o Norte como excluídos nessas propostas curatoriais. O Centro-Oeste também existe, respira por aparelhos, sufocado pela soja e pela morte de seus rios e também do Pantanal, mas existe.
O segundo ponto é a máxima “quem não é visto, não é lembrado”. Eu que não sou poeta, mas me faço ser vista, fui até citada por uma amiga, grande escritora. Quando li, ri, e me lembrei de outro ditado popular, “quem tem madrinha não morre pagão”. Ou seja, gente negra que não está sob holofotes (por motivos diversos) ou que não força a barra para ser notada, não existe nem para nós, que elaboramos as listas dos/as poetas excluídos, não lembrados. Se você não é incensado pela mídia e pelas igrejinhas literárias ou não dá seus pulos no laboratório e faz a alquimia do seu próprio incenso, ferrou, baby! Você não fede, nem cheira.
Por essas e outras não vi citações dos ausentes Eliane Marques e Ronald Augusto, do Sul, é verdade, mas, negros que não furam a bolha dos escritores sulistas, brancos, por suposto. Miró, de Pernambuco e Mariana de Matos, mineira que também vive lá. Tatiana Nascimento Dos Santos, de Brasília. Elisa Lucinda Campos Gomes, a capixaba mais carioca do Brasil, que mesmo muita vista na telinha, não tem sua produção intelectual como um todo, e poética, em particular, consideradas com atenção e rigores devidos. E por fim, o grande, o maior, o caramujo, Edimilson De Almeida Pereira.